terça-feira, março 27, 2007

Teu nome

Amor, hoje teu nome
a meus lábios escapou
como ao pé o último degrau...

Espalhou se a água da vida
e toda a longa escada
é para recomeçar.

Desbaratei te, amor, com palavras.

Escuro mel que cheiras
nos diáfanos vasos
sob mil e seiscentos anos de lava

Hei de reconhecer te pelo imortal
silêncio.

Cristina Campo

segunda-feira, março 19, 2007

A mulher do vestido encarnado

Ameigam teu corpo airoso
requebros sensuais,
e o teu perfil
felino e vicioso
diz-nos pecados brutais?
– Paixões preversas
onde o crime é gozo!

Carne que a horas se contrata,
e onde a tísica já fez guarida;
– vendida por suja prata
em tanta noite perdida…

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!…

Perderam se tantas, tantas
mocidades
nos teus olhares diabólicos,
que nem tu já sabes quantas!

E ninguém te perguntou
ainda, mulher perdida
que desgraçado amor foi esse
que te arrastou
a essa vida, negra vida!

E às vezes,
cuspindo sangue
em noites de guitarrada,
a tua boca tão mordida,
cantando, à desgarrada,
fala do amor crueldade
– um amor todo ruína,
um amor todo saudade!

Ó farrapo de luxúria
que acendes quentes desejos
até à fúria,
na febre de longos beijos!

Judith Teixeira

sexta-feira, março 09, 2007

O meu chinês

Nos olhos de seda
traçados em viés,
tem um ar tão sensual
o meu Chinês…

Vive sobre uma almofada
de cetim bordada,
pintado a cores.

Às vezes
numa ânsia inquieta
que eu não mitigo,
e que me domina,
num sonho de poeta
ou de heroína,
fujo levando
o meu Chinês comigo!

E lá vamos!
Nem eu sei
para que alcovas orientais,
em que países distantes,
realizar
as horas sensuais,
as horas delirantes
com que eu sonhei

………………………………………………..

Eu e o meu Chinês
temos fugido tanta, tanta vez!


Judith Teixeira