terça-feira, outubro 31, 2006

Espero que vuelvas pronto.

Quiero sentirte dentro esta noche,
sentirte dentro violento y fuerte.
Que en un instante pases de ser el amante apasionado
a un niño que tiembla dentro, dentro de mi.

Quiero que te abandones en mi cuerpo
hasta que no sepas donde estes y exhausto te derrumbes encima mio,
sudando, jadeando y buscando mi boca
como un vaso de agua fresca
en los veranos oscuros de mi alcoba…
pero estas lejos que ya casi no recuerdo el sabor de tu sudor…

Espero que vuelvas pronto.

desconheço

sexta-feira, outubro 27, 2006

A boca

A boca
que primeiro levou
aos meus lábios a cor da aurora
ainda
em belos pensamentos desconto o aroma.

Ó pueril boca, amada boca,
que dizias o que ousavas e tão doce
eras a beijar.

Umberto Sava

segunda-feira, outubro 23, 2006

Garcilaso de la Vega

Em minha alma é escrito vosso rosto
e quanto eu escrever de vós anseio:
vós sozinha o escrevestes, eu o leio
tão só que nisto vos evito a gosto.
Nisto estou e estarei sempre disposto
que, não cabendo em mim o meu enleio,
desse bem o que não entendo creio,
tornando já a fé por pressuposto.
Eu não nasci senão para querer-vos;
minha alma à sua altura vos talhou;
para hábito da minha alma vos quero;
quanto possuo confesso já dever-vos;
por vós nasci, por vós na vida estou,
por vós morro, por vós morrer espero.


Diria... fantastico

terça-feira, outubro 17, 2006

Aos amores

Aos amores!

A vida que tudo arrasta os amores também
uns dão à costa, exaustos, outros vão mais além
navegadores só solitários dois a dois
heróis sem nome e até por isso heróis

Desde que o John partiu a Rosinha passa mal
vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal
ainda em si mora a doce mentira do amor
tomou lhe o gosto ao provar lhe o sabor

Os amores são facas de dois gumes
têm de um lado a paixão, do outro os ciúmes
são desencantos que vivem encantados
como velas que ardem por dois lados

Sérgio Godinho

sexta-feira, outubro 13, 2006

Pois...

Qualquer semelhança com a realidade...

Um homem está a conduzir o seu carro, quando a certa altura percebe que se perdeu. Dá conta de outro homem que passa por perto, encosta ao passeio e chama-o:



- Desculpe, pode dar-me uma ajuda? Prometi a um amigo encontrar-me com ele às 14h, estou meia hora atrasado e não sei onde me encontro...

- Claro que o posso ajudar. O senhor encontra-se num automóvel, entre os 38 e os 39 graus de latitude norte e os 9 e 10 graus de longitude oeste, são 14 horas, 23 minutos e 42 segundos, hoje é quarta-feira e estão 27 graus centígrados.

- O senhor é informático?

- Exactamente! Como é que sabe?

- Porque tudo o que me disse está correcto do ponto de vista técnico, mas é inútil do ponto de vista prático. De facto, não sei o que fazer com a informação que me deu e continuo aqui perdido

- Então o senhor deve ser um chefe, certo? - responde o informático

- Na realidade sou mesmo. Mas... como percebeu?

- Muito fácil: não sabe nem onde se encontra, nem para onde ir; fez uma promessa que não faz a menor ideia de como vai cumprir e agora espera que outro qualquer lhe resolva o problema. De facto, encontra-se exactamente na mesma situação em que estava antes de nos encontrarmos, mas agora, por um qualquer estranho motivo... a culpa acaba por ser minha!

quarta-feira, outubro 04, 2006

Quarto em desordem

Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não sabe como é feita: amor
na quinta essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objecto mais vago do que núvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo

verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

Carlos Drummond de Andrade