sábado, abril 20, 2019

Vais, mas voltas.6

Vais, mas voltas. Sempre voltas!
Apressas o passo e levas contigo a fúria de mil tempestades. Rasgas o verbo com a força da tua raiva, que te domina fazendo perder o discernimento. Eras capazes de matar nesse exacto momento. Bastava a cegueira te tomar de assalto e toda tua vida se via perdida num gesto insano.
Gritas bem alto que não mais me queres ver, que me queres esquecer preferindo a morte a voltar para os meus braços. Abres caminho como um rio desenfreado, que acordou mal-humorado e na ânsia de se impor transborda exibindo a sua dor
Tu vais, mas voltas. Sempre voltas...
Deixas o tempo passar, finges de mim não lembrar e procuras o brilho de outros olhos.
Apressas o tempo em correria a cada dia preenchendo o vazio que teimas em não querer sentir. Sorris numa felicidade fingida, afogada à noite na bebida num trago amargo e forte.
Esqueces a raiva, sentes o abandono do teu corpo maltratado pela saudade. Relembras cada vez que te perdeste nos recantos do meu corpo. A cada toque a descoberta de um novo prazer, um sabor mais doce, mais quente, mais intenso…
Mas a mágoa grita em teu ouvido atirando-te para o inferno. O teu peito arde de ira, os teus olhos choram de dor… é o preço do amor.
Entre o amor e a razão, do orgulho não abres mão e escolheste o teu caminho… agora com a vida em desalinho pontapeias os dias, acreditando me esquecer.
Tu foste e não voltaste..., ainda.
Mas um dia vais voltar, disso tenho certeza.Não há sentimento de maior nobreza que aquele que sentimos.
Volta- mo- nos, fingimos, mas sabemos... que um dia tu voltas.

Giullia

Abril/2018

sábado, abril 13, 2019

Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha A tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca