segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Poema de Amor

A noite é cheia de vales e baías.
E do meu peito aberto um rio largo de sangue...
Águas densas, de correntes lentas,
serpentes mortas a arrastarem-se.
Águas?
Águas negras, pastosas, alcatrão rolante.
Mas águas puras, verde claras, atraindo
a margem donde os crocodilos fogem mastigando.
Águas em transparências lucilantes, para cima,
e as estrelas do mar, um polvo e um mefistófeles
ficam no ar sobre ilhéus e lodosos calhaus
que se descobrem.
Plantas brancas e extáticas...
Lágrimas... nuvens... e a cabeça, o perfil,
os olhos, todo o corpo da mulher amada, a prostituta
antes de virgem, que é bela e feia, velha e nova,
e não conhece os filhos!

O fogo envolve essa mulher amada
e é um guindaste erguendo a e atirando a,
enquanto dispersas pelo chão brilham mandíbulas
naturalmente à espera...

Edmundo de Bettencourt

2 comentários:

Anónimo disse...

"Águas densas, correntes lentas de serpentes mortas..."
que dia esse... em k o sr vendo escolheu este poema ... atormentado?! inquieto?! zangado?!angustiado?! uhummmmmm....
anita

Anónimo disse...

Que densidade!

um besito sr. vendo

anda um pouco afastado das lides poeticas, agora só semanalmente nos brinda com os "seus" poemas?